O início da pandemia de Covid-19 no Brasil, em 2020, fez com que as pessoas passassem mais tempo em casa e, durante o período em isolamento, elas olharam com mais atenção para suas residências. A percepção da necessidade de melhorias e de uma boa estrutura de convivência nos lares foi uma das responsáveis pelo destaque da retomada de crescimento no setor de construção civil em 2021.
O setor registrou o maior crescimento da década, chegando a 7,6%, segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), no estudo chamado “Construção Civil: desempenho 2021 e cenário para 2022”. Também foi um dos destaques no resultado do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro do ano passado com um avanço de 9,7%, enquanto a economia como um todo cresceu 4,6% em 2021, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
É para esse cenário promissor que uma startup goiana desenvolveu uma solução para o setor de construção civil capaz de otimizar o trabalho de arquitetos e designers de interiores através de uma plataforma digital colaborativa, a ArqColab. A fundadora da startup e arquiteta Liana de Araújo Domingues Sá, por trabalhar na área, percebeu uma dificuldade em realizar mais de um projeto ao mesmo tempo sem que fosse necessário o aumento de despesas na contratação de pessoal e na manutenção de um escritório. Ela também diz ter notado que o problema ia além dos custos com uma estrutura física, mas com a organização das informações das etapas de um projeto de arquitetura e como essas são repassadas aos colaboradores envolvidos.
“Nossa clientela faz parte de um dos setores mais carentes por soluções que minimizem custos, agilizem processos, otimizem tomadas de decisões e maximizem ganhos. Com a ArqColab, procuramos facilitar a vida desses profissionais, cuidar de toda a burocracia para que eles tenham tempo livre para fazer o que interessa, que é atender às expectativas de seus clientes finais através de projetos criativos e com informações consistentes necessárias à boa execução”, posiciona a fundadora.
Com um sistema de gestão integrada e colaboração entre escritórios e profissionais autônomos de pequeno e médio porte na área de construção, além de reduzir custos, a ArqColab também pode ser uma oportunidade para profissionais que precisam de renda extra. “A ideia da plataforma surgiu antes da pandemia, mas já fazia parte de sua proposta o trabalho remoto de qualquer lugar do mundo para possibilitar uma agenda mais maleável aos profissionais liberais e aos que sentem dificuldades em crescer sem estrutura”, afirma Liana. Desta forma, os clientes em potencial da startup estão entre os 212 mil arquitetos e urbanistas e os 55 mil designers de interiores pelo Brasil, de acordo com o Censo CAU 2021, do Conselho de Arquitetura e Urbanismo e do Crea SP (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo), respectivamente.
Plataforma
Como define a fundadora, a ArqColab é um escritório de bolso sob assinatura. A plataforma funciona de forma intuitiva e prática, armazena projetos e informações em nuvem e pode ser acessada de maneira remota através de computadores de mesa (desktops) e celulares. Dividido em módulos, o sistema possui três interfaces, cada uma com características exclusivas para o gerenciamento da etapa envolvida. São elas Administrador, Gerente e Arquiteto Final (terceirizado). Liana explica cada uma das interfaces para os usuários.
O Administrador, ou arquiteto titular, é o cliente da ArqColab, que pagará uma assinatura mensal pelo sistema de gestão e colaboração. A assinatura poderá ser completa ou por pacotes de módulos. O arquiteto titular poderá consultar o banco de talentos da plataforma quando precisar de ajuda extra em seu escritório e contratar facilmente o profissional adequado para sua demanda temporária, o que desonera custos. O usuário desta interface terá a visão completa dos projetos que estão sendo desenvolvidos em seu escritório, quais os profissionais envolvidos, qual o tempo destinado a cada projeto e terá acesso às alterações de projeto e suas respectivas considerações e correções.
Na interface Gerente, ou responsável por um projeto, o papel é gerenciar terceiros que desenvolvam partes do projeto arquitetônico e juntar as informações de maneira prática para a entrega do projeto completo para validação e assinatura do Administrador (Arquiteto Titular). A comunicação nessa interface é Gerente – Arquiteto Final (terceirizado) – Gerente – Administrador. O acesso aos arquivos de projeto se dá através da nuvem e as considerações e correções são feitas dentro do sistema da ArqColab através de print e caixa de diálogo, sem que seja necessário salvar novas versões de um mesmo projeto. Também é possível o uso de programas de desenho variados, como Sketchup, Autocad e Revit, dispensando a conversão para estes formatos. Com isso, a ArqColab se desvinculou da licença de softwares de desenho por parte de seus usuários. Este usuário é também o responsável pela contratação, acompanhamento e pagamento pelo trabalho dos terceirizados. A contratação é feita por contrato de prestação de serviços automático, os smart contrats. O pagamento é feito por split, no qual o valor fica retido e assegurado às partes envolvidas quando da entrega e aceite do projeto final, funcionando como uma carteira digital.
Por último, a interface Arquiteto Final é um profissional terceirizado em busca de oportunidades de renda extra. Ele se inscreve no site, envia seus dados, currículo e portfólio. A ArqColab classifica este profissional de acordo com suas especialidades, disponibilidade e habilidades. É a interface que contém a tela de oportunidades, na qual ele poderá ver os projetos que precisam de ajuda, a parte de comunicação com o gerente e uma pequena parte de gestão interna para organização de seus trabalhos e recebimentos. Este usuário terá acesso também ao contador de tempo de trabalho, para ter uma visão das horas gastas com cada projeto, o que irá gerar relatórios para o Gerente e Administrador.
Programa Centelha
A ArqColab foi um dos projetos selecionados na primeira edição do Programa Centelha, que estimula a criação de empreendimentos inovadores e dissemina a cultura empreendedora pelo Brasil. O Centelha oferece mentorias, capacitações e recursos financeiros para transformar ideias inovadoras em negócios de sucesso.
O programa Centelha é uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), e operada pela Fundação Certi. Em Goiás, o programa é executado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg).
A fundadora afirma que o fomento do Centelha permitiu que a startup saísse do estágio de ideia de negócio para o estágio de desenvolvimento do produto, ou seja, para um protótipo testável para uso. “Contratamos profissionais para desenvolvimento do código da plataforma do sistema digital, banco de dados, API do backend (interface de programação que ajuda os desenvolvedores a interagir com serviços), jornada dos usuários no site, design de tela para o frontend (usuário). Também foi contratada consultoria especializada em arquitetura para formatação do funcionamento e desenvolvimento do escopo completo do escritório digital e elaboração dos documentos necessários à formalização de um projeto arquitetônico”, explica Liana Domingues Sá.
A primeira versão da ArqColab está prevista para teste em abril e, a princípio, será testada em três escritórios com 23 profissionais cadastrados.
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