O 26º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica 2025), que está sendo realizado na cidade de Goiás até este domingo (15/06), vai muito além do audiovisual. A prova disso é a mostra de artes visuais Cerrado em Disputa: Arte, Memória e Paisagem, que integra sua programação.
Composta por obras que dialogam com o tema do festival este ano, Cerrado: a savana brasileira e o equilíbrio do clima, as exposições ocorrem nas salas expositivas do Museu Palácio Conde dos Arcos.
Conforme explica o professor Paulo Duarte-Feitoza no texto de apresentação da mostra, as obras, selecionadas por meio de edital, são unidas por uma atenção comum à paisagem, propondo múltiplas formas de se relacionar com o território.
“Esses encontros atravessam memórias ancestrais, conflitos socioambientais e as transformações que marcam o presente urbano do Cerrado”, destaca.
No âmbito da memória, por exemplo, destaca-se a série Cultivar Jardins Como Quem Mantém a Mãe Viva, de Emiliano Nogueira, selecionado na categoria artistas e grupos residentes na cidade de Goiás. O trabalho reúne pinturas baseadas em registros em VHS realizados por sua mãe em 1998, nos quais ela documenta seu jardim de roseiras com closes intensos das flores, uma paisagem sensível e íntima.
“Esse material originário serve de base para a criação de pinturas que elaboram, em linguagem visual, reflexões sobre cuidado, memória e a dualidade entre vida e morte. Transpostas para o suporte bidimensional, as imagens do vídeo são reinterpretadas em pinturas feitas com esmalte de unha sobre papel. Essa escolha técnica evoca o universo afetivo de minha pesquisa e a ancestralidade das mulheres manicures da família, ressignificando esse material cotidiano em um gesto estético e político”, explica o artista.
Já no campo dos conflitos socioambientais, Fernanda Adamski, em sua série Cerradão, transforma as cinzas e o ar espesso, frutos da seca e das queimadas, em desenhos a nanquim que traduzem o desaparecimento das árvores. “Essas obras representam um ar pesado, e a fumaça que vemos no céu na verdade são cinzas das árvores indo embora”, descreve Fernanda.
Com foco nas urgências ambientais, a artista desenvolve uma pesquisa voltada especialmente à contaminação do ar por gases tóxicos, resultado de queimadas e da poluição industrial. Segundo ela, participar do Fica como artista visual representa uma oportunidade de explorar a urgência desses temas hoje.
“Neste trabalho, busco a memória de árvores que se foram com suas cinzas ao infinito, e isso é uma forma de alertar e conscientizar a sociedade a preservar não só o Cerrado, mas o meio-ambiente como um todo”.
Para Emiliano, a relevância da mostra de artes visuais vai além das questões ambientais, representando ainda uma possibilidade de ampliar a discussão sobre a produção artística do Estado, além de contribuir para a sua difusão.
“Como morador da cidade de Goiás e artista contemporâneo, entendo essa exposição como um espaço de inserir debates da arte atual no contexto de uma cidade histórica, ativando novas camadas de sentido e estabelecendo diálogos”, argumenta.
Horários de visitação
As exposições serão realizadas ao longo do Fica 2025, com visitação aberta ao público diariamente, das 9 às 19 horas, nas salas expositivas do Museu Palácio Conde dos Arcos e em outros espaços determinados pela organização. Todas as obras permanecem montadas e acessíveis durante o período do festival.
O Fica 2025 reforça seu compromisso com a arte, a cultura e o meio ambiente, promovendo o diálogo entre as linguagens audiovisual e visual no cenário histórico da cidade de Goiás.
Sobre o Fica 2025
O festival traz nesta edição uma vasta programação gratuita que inclui mostras competitivas de cinema, oficinas, atrações culturais, atividades ambientais, sessões voltadas ao público infantil, shows musicais, além de fóruns e debates com grandes nomes do cinema nacional e internacional.
O evento é uma realização do Governo de Goiás, por meio da Cultura (Secult), em correalização com a Universidade Federal de Goiás (UFG), por meio da Fundação Rádio e Televisão Educativa (RTVE).
O festival conta ainda com a cooperação de diversas instituições, entre elas: a Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (APAN), MapBiomas, The Nature Conservancy Brasil, Unesco, Museu do Índio (Funai), Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Participam também as Secretarias de Estado da Educação; do Desenvolvimento Social; da Saúde, Esporte e Lazer; do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, além do apoio do programa Goiás Social, Sesc Goiás, Saneago, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar do Estado de Goiás, Instituto Federal Goiano e da Prefeitura da cidade de Goiás.
A cobertura de imprensa oficial do Fica 2025 será realizada pelas emissoras TV Anhanguera, TV Brasil Central, TV UFG e Canal Saúde (Fiocruz).
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